No agora lendário ensaio Writing for Comics, Alan Moore escreve sobre a importância do ritmo nas HQs.
Ritmo é tudo, pensando bem. Em qualquer narrativa. Mas especialmente em quadrinhos, que dependem muito mais da interação do espectador. Scott McLoud diz que aquele espaço fino entre um quadrinho e outro, que seria o escrúpulo do cinema, é o fator mais importante da arte sequencial. É o espaço em que o olho do leitor pode divagar. Divagar não é bom. Pelo menos não durante a leitura.
Nesse artigo não exatamente recente sobre o assunto, o autor traz uma história do pacing nas HQs, e comenta uma tendência mais ou menos recente no meio: a descompressão narrativa.
Decompressed storytelling é quando um autor alonga a narrativa, trazendo mais elementos, enriquecendo diálogos e fazendo com que a história flua de maneira mais lenta. A cadência da história muda. Enquanto isso permite que as histórias sejam criadas com mais realismo, e - porra, se não é o que todo mundo quer - mais informação, há alguns grupos que clamam que isso é mero engodo, que as histórias teriam momentos desnecessários e que o leitor seria ludibriado e comprar revistas que nunca acabam.
Expoentes dessa técnica são Brian Bendis, Garth Ennis e Greg Rucka. Todos bons. Todos com livros que eu leio e acompanho. Nas histórias deles, a decompression technique funciona que é uma maravilha. Mas mesmo Brian Bendis não escapa da obrigação de colocar recaps (páginas explanatórias) no começo de cada edição. Ultimate Spider-Man e Daredevil são exemplos. Garth Ennis não precisava em Preacher, mas isso é uma combinação rara de escritor/artista/personagem. As histórias do Starman da DC, escritas pelo James Robinson necessitavam às vezes de até três páginas de recaps, e isso fez com que a Wizard desse uma nota ruim ao título. O problema não é ter uma narrativa lenta. O problema é obrigar o leitor a empilhar seis números antigos e reler as histórias para se ambientar.
De qualquer modo, a técnica da decompression é uma das mais utlizadas hoje em dia. No texto, o autor credita a Frank Miller (Ronin) e Mike Grell (Warlord) o pioneirismo disso na década de 80. O engraçado é que eu lia Superamigos na década de 80 e sempre pulava as histórias do Warlord. Eram chatas, tinham muitos painéis por página e tudo demorava para acontecer. Agora, Daredevil e Queen and Country estão entre meus livros favoritos. Sabedoria.
Ao mesmo tempo, Warren Ellis chuta o balde e muda todo o status quo. Se em Planetary ele já escrevia histórias auto-contidas, que faziam parte de uma grande trama mas podiam ser lidas individualmente, ele vai lançar em setembro uma série que promete trazer histórias de 17 páginas em que tudo se resolve em um número apenas. O nome é Fell. Histórias assim me parecem mais complicadas de fazer. Mas isso é porque eu gosto muito mais de romances do que de contos. Minha idéia de paraíso é uma biblioteca com milhares de bons e inéditos livros com mil páginas cada.
E pensando bem, Ulisses de Joyce foi um romance que levou a decompression à décima potência. "Ei. Que tal se eu contar o que acontece em um dia e fazer isso em 922 páginas?".
Mas pensando bem pela segunda vez, The Ultimate Decompressed Novel é a Bíblia. Tudo aquilo para fazer uma árvore genealógica. De Adão a Jesus em alguns vários versículos.
Thursday, June 30, 2005
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